quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Médico, o Seu Doente e a Doença - Michael Ballint

Desta vez trago-vos um livro médico. Apesar de ser um livro relativamente técnico, não quis deixar de o trazer por ter andado fascinada com o mesmo no último mês. Para os possíveis médicos ou estudantes de Medicina que por aqui passam, tomem atenção.
Este livro resume as primeiras experiências de Ballint, psiquiatra, com os seus grupos. Estes grupos consistiam em médicos de família que, em conjunto com psiquiatras e psicoterapeutas, discutiam os seus casos nos quais gostariam de ou tinham realizado psicoterapia. Com a ajuda dos especialistas, poderiam desenvolver a sua abordagem psicoterapeutica e com isso ajudar os seus doentes e famílias.
É muito interessante o facto de os médicos serem clínicos gerais/médicos de família porque, realmente, são quem melhor conhece as pessoas. Mesmo um psiquiatra, ao ser abordado em situação de doença mental, não conhece tão bem o contexto familiar e histórico da pessoa como o seu médico de família. Daí a importância de, para os interessados e motivados, ajudar a desenvolver as capacidades destes médicos na intervenção psicoterapeutica dos seus doentes.
Este livro aborda questões muito interessantes como a criança portadora da doença (quando, na realidade, são os pais que estão doentes e que transmitem a sua ansiedade e frustração para as suas crianças), a conspiração do anonimato (em que a responsabilidade de cuidar e resolver os problemas de um doente é dissolvida entre vários médicos e especialistas, sem que nenhum tome por definitivo as rédeas) ou a "função apostólica" do médico. Fala-nos de casos em que a somatização dos problemas de ordem psicológica é imensa e importante e quais as diferentes abordagens e evoluções dos mesmos. 
É um livro para ser lido tendo em conta o seu contexto histórico, já que estes casos decorrem nos anos 50, altura em que a psicanálise tinha muito peso na psiquiatria, em que métodos como os choques elétricos ou a lobotomia ainda eram práticas correntes e as medicações psiquiátricas se reduziam a "sedativos" e "tónicos". De qualquer forma, é incrível ver como os problemas da vida de uma pessoa se revelam através do corpo de uma forma tão evidente e como uma intervenção psicoterapeutica por vezes tão simples poderá ser suficiente para provocar a mudança e a evolução favorável do caso.
Considero este livro essencial para qualquer médico com algum tipo de sensibilidade para estas questões, já que muitos doentes não têm a capacidade de verbalizar as suas verdadeiras preocupações e problemas e cabe ao médico considerar estas questões nas suas hipóteses diagnósticas e, tal como sempre nos ensinaram, a olhar o doente de forma holística e, essencialmente, humana.

Orquídea

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