sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Meu querido avô,

já foste para longe, mas ainda te vejo no sofá, com o jornal na mão trémula. Ainda adivinho os teus braços fatigados, apoiados nas pernas vagas, segurando aquilo que te mantinha ligado ao mundo (sempre achei que a leitura era uma das tuas maiores riquezas). Já não saias de casa. O teu corpo não te autorizava, não te concedia a força... e assim te ficaste. Meses corridos na varanda coberta, vendo os raios de sol a entrarem por entre a videira que tanta sombra deu aos teus netos. Os teus netos, meu avô. Os teus catorze netos, que tanto te gostavam. Estiveram longe enquanto partias, deixaram apenas o teu corpo ir. Há esta maldade inocente no corpo de um jovem. De querer viver tudo, de ser egoísta, de não saber parar e ficar. De ter a efervescência do movimento no sangue... da aventura e da emoção. Não lhes aguentavas a maré agitada. E eles não suportavam a tua inabilidade, a tua condição de velho. Mas gostavam-te.

Criaste uma família muito bonita, avô. À qual me orgulho de pertencer. Uma família que se junta e que partilha. Que considera todos. Que ajuda. Uma família que se conhece bem e que se junta. Que conversa horas a fio. E que, apesar de enorme, sempre se manteve una.

Cuidem bem da vossa avó. E cuidaremos, avô. Vai em paz.

Papoila

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