sábado, 5 de setembro de 2009

Contei-lhe

Conheci, nesta viagem, entre várias pessoas, uma rapariga em particular. Muito bem disposta, com humor, sonhadora, muito inteligente e com quem adorei conversar. Falámos de tanta coisa e uma das coisas de que mais falámos foi da sua religião, o Islão. Muito religiosa, cumpre as três rezas diárias de viajante, cumpriu o primeiro dia de Ramadão (como viajante, não é obrigada a fazê-lo) e fala da sua religião com muito amor, explica, mostra o quão semelhante pode ser em algumas mensagens relativamente a outras religiões - é amor - e confessa que é através da religião que se sente mais próxima do que procura.
Conheci muita gente diferente, mas aproximei-me de duas ou três pessoas em particular e, uma delas, foi esta rapariga. Senti uma boa amizade a ser criada e estimada e, especialmente por isso, quis contar-lhe. Não precisava, não íamos ficar juntas por muito tempo e não tenho de lhe contar da minha vida. Mas queremos partilhar certas coisas que nos são importantes com pessoas que acreditamos que merecem. E senti-me por vezes falsa por não ser completamente honesta. Já antes tinha perguntado discretamente a sua opinião sobre o tema. Compreendera que não era um tema fácil, mas não fui capaz de me conter. Demorei. Mas contei-lhe.
Foi, como esperado, uma reacção diferente de todos os outros amigos com quem já tivemos a mesma conversa. Ficou em choque, como me disse, tinha o mundo muito seguro e de repente surge isto. Sempre fugira do tema, mas agora estava ali. Não sabia o que dizer. Tentei mostrar-lhe o quão semelhante pode ser, o quão verdadeiro e puro. Contei-lhe por palavras doces. Fez perguntas directas com difíceis respostas, mas fiz o que pude para lhe deixar à vontade. Não ficou, claramente, à vontade. Não era capaz de deixar de pensar que era uma rapariga, apesar de todas as descrições de amor soarem verdadeiras. Comentou um livro que andava a ler, também com a mesma temática. Esforça-se por compreender toda a gente. Disse-lhe que esperava não descer degraus na sua consideração e ela diz que seria incapaz de o fazer. A voz treme-me em toda a conversa, não sei quais as melhores palavras, mas compreendo que precisa de ficar a sós, que talvez se sinta ameaçada por mim. Peço desculpa. Saio, amanhã será um novo dia.
Os restantes dias até à despedida decorreram normalmente, sem voltarmos a tocar no assunto, com as brincadeiras e a cumplicidade do costume. Chegou a altura da despedida e o abraço que esperava. Tive medo daquela despedida, de sentir que seria mesmo o fim desta amizade por ela não tolerar esta ideia. Não senti no abraço dela a saudade futura que gostaria. Talvez apenas por medo de não o sentir, talvez por não ser dela estes carinhos, talvez, quem sabe, por não estar mesmo lá essa saudade.
Voltei há seis dias e não soube mais nada dela. Estou à espera. Ela é uma rapariga inteligente, confio na sua capacidade de compreender o que realmente importa. Eu espero.

Desculpem a longa conversa, mas penso que também é importante para todas estas histórias. Quando receber notícias dela, eu aviso.

Orquídea

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